sábado, 21 de maio de 2011

Pessoas

Fernando,
Quantas Pessoas te guardam?
Quantos Caeiros, Reis e Campos te revelam no anonimato
Entre tantos que ainda te esperam?

E ao ler teus eus
Que liricamente
Te falam
Fragmentado,
Me vejo assim
Nestes pedaços
Com a mesma estranheza de tantos,
Pois que tão contraditória sou quanto teus Fernandos
E tão complexa e simples quanto as Pessoas
Que tenho juntado...      

 Sutilmente me encontro
Na dureza do teu Álvaro cansado
...

Muitas vezes caminho
Nas linhas rígidas de Ricardo
Para a morte do descanso,
Posto que a eternidade,
Às vezes, parece
A condenação de estar sempre acordado
Paradoxalmente vagando
...

E deliro na sutileza de Alberto
Crítico, simples e direto
E ao mesmo tempo
Docemente encantado
...
Da leveza ao rigor
Explodo em versos
Tão contraditórios
E, talvez, Intrigantes.
Emoção tão
Exposta e velada
Onde não me encerro

Vivo
 Itinerância existencial
Tão conflitante
Nos próprios passos
Multiplicados

Me pergunto, Fernando:
Que amor à vida
Será esse que nos faz cômicos e
Tão delirantes?


Maris Figueiredo


Para Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e outros tantos




O Amor é uma Companhia


Alberto Caeiro


O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. 

Começo a conhcer-me. Não existo

Álvaro de Campos


Começo a conhecer-me. Não existo. 
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,  
ou metade desse intervalo, porque também há vida ... 
Sou isso, enfim ...  
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor. 
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.  
É um universo barato.


Anjos e Deuses



Ricardo Reis

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos, A visão perturbada de que acima De nos e compelindo-nos Agem outras presenças. Como acima dos gados que há nos campos O nosso esforço, que eles não compreendem, Os coage e obriga E eles não nos percebem, Nossa vontade e o nosso pensamento São as mãos pelas quais outros nos guiam Para onde eles querem E nós não desejamos.



 

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