sábado, 26 de dezembro de 2009

DA JANELA DE BILAC


Se estrelas
Olhasse
E da Terra

Devassando suas janelas,
A alma
Ao debruçar-se,
Bilac,
Sentisse...

Se espantaria
 Ao vê-lo
Imortalizado nas esferas...

 E
Vertendo sonhos de essência luminosa,
Explosão,
Nem sempre harmoniosa.
Onde o caos é nuvem de poeira cintilante
Espalhando poesia!

Se antes,
aventurava-se a
Abrir as janelas
num colóquio estelar...

Veria
Agora:
Ganhou o espaço
Na companhia delas!

Fadado ao
Infinito,
Hoje,
Em versos
de luz,
Brilha
Bilac,
O poeta amigo!

Maris




Ouvir Estrelas (Olavo Bilac)
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

sexta-feira, 31 de julho de 2009

DAS COISAS SIMPLES




Há de se ter esperança
De ser tão leve
Quanto a folha que valsa

Há de se ter alegria
De rir mesmo nas dificuldades
Feito criança que brinca
Em cantiga de roda...

Há de se ter coragem
De ir à luta
Feito semente que
Rompe a terra

Há de se ter doçura
De abrandar as dores
Feito um colo de mãe

Há de se ter humildade
Para abraçar a vida
E agradecer...

MARIS


domingo, 24 de maio de 2009

De Luz e Som




NAS TRANÇAS
DESSES CAMINHOS
QUE SE CRUZAM

SONHOS TANTOS
TECEM

ESCONDIDOS
PELOS CANTOS
DOS OLHOS RASOS

EM ÁGUAS QUE BANHAM
DESEJOS
QUE ME AQUECEM

LIMPANDO O PEITO
NO SENTIR
QUE EXALO

MAGIA
 ENCANTO
QUE EXPANDE

E JÁ NÃO GUARDO
O SOM E A LUZ
QUE INVADEM

FLUI NO AR
MEU SEMBLANTE

UM SORRISO 
TÍMIDO
DE CAMINHAR AO SEU LADO

MARIS

terça-feira, 21 de abril de 2009

TEREZINHA DE SI MESMO




Dizem que Terezinha de Jesus era uma moça que desejava casar e propositalmente, numa festa, fingiu tropeçar. Caída no chão, esperava que um cavalheiro a levantasse... Mas a história que conheço sobre Terezinha é bem diferente...

Terezinha de Jesus era uma bela morena nascida no Maranhão. Tinha como segundo nome, o seu protetor, em agradecimento pela graça concedida a uma promessa feita por sua mãe. Tinha sempre no pescoço um crucifixo, que a enfeitava e protegia, sinal de seu grande devotamento.

Era filha de Januário, homem muito religioso. Irmã de Jessé. Rapaz bom, porém sem iniciativa e que acatava todas as ordens do pai, seja lá quais fossem. Sua mãe há muito havia partido.

Terezinha de Jesus gostava de dançar. Era obediente e sossegada a menina, contudo era na praça Deodoro, em frente ao armazém da cidade, que rodava sua saia estampada chamando a atenção de tantos que por lá passassem. Isso sempre acontecia quando o Tambor de Crioula se formava sob a coordenação do Mestre Virgílio de Ataíde.

E foi assim que certa tarde, Terezinha viu Raimundo. Rapaz galante, boa aparência que chegou à cidade procurando Doralice. Essa, diferente de Terezinha de Jesus, era mulher da vida, havia tido um caso com Jessé que a mando do pai, terminou o romance. Doralice enlouquecia os homens e Raimundo era mais um deles.

Em meio a tanta gente, Terezinha avistou Raimundo. E seu coração bateu mais que o rufador de Mestre Virgílio. Terezinha nunca havia sentido emoção tão forte, nem mesmo quando sua mãezinha partiu. Aliás, não era emoção, era um desassossego, uma inquietação.

Dois dias se passaram... Doralice não recebeu Raimundo apesar de sua insistência. Ela não suportava homem que ficasse no rabo de sua saia. Era uma mulher fogosa de muitos homens, jamais se contentaria com um e muito menos aguentaria os ciúmes dele. Raimundo ficou desolado, furioso e como não tinha nada mais que o prendesse à cidade, resolveu aproveitar a última noite afogando suas dores na cachaça vendida por Seu Onofre.

Não tardou muito para que na mesma noite, Terezinha de Jesus estivesse com Raimundo, ali na quermesse do padre Norberto. Devotada que era, passava uma rifa para ajudar a igrejinha de São Benedito durante a festa. E foi vendendo a rifa que Terezinha ficou frente a frente com Raimundo que saiu da vendinha e se juntou à quermesse.

Os dois se olharam e Raimundo ao ver a bela morena, teve seu pensamento tomado pelo desejo de estar com ela. Comprou uma rifa, se apresentou deixando no ar o bafo de cachaça servido na vendinha... Terezinha que já estava de olho em Raimundo, sorriu um tanto sem graça e envergonhada diante daquele olhar que parecia devorá-la! Sensação que a deixou tumultuada... Mas não a incomodara, muito pelo contrário, se sentiu atraída por aquele homem que dias atrás havia visto na praça, andando apressado e nem a notara dançando.

Continuou oferecendo sua rifa sem deixar de trocar olhares com Raimundo que de longe a seguia. com os olhos Já eram 17 horas e Mestre Virgílio preparava o grupo para a apresentação. Raimundo um tanto alterado entrou na roda e dançou em volta de Terezinha que percebia o olhar do pai reprovando os modos do moço.

Após a apresentação, o pai de Terezinha de Jesus a puxou pelo braço e brigou com a moça. Pela primeira vez, viu em Terezinha de Jesus um olhar atrevido enquanto dançara e percebeu que se exibira para Raimundo que a rodeara.

A quermesse chegou ao fim, mas continuaria durante toda a semana. Já eram 19 horas quando o padre acabou de celebrar a missa em agradecimento a todos pelas contribuições do dia para as obras da igreja. Foi dado inicio à arrumação, recolhimento das comidas e outros produtos vendidos nas barracas. Jessé e Januário ajudavam, enquanto Terezinha de Jesus se distanciou de todos perceber o sinal que Raimundo fazia para que conversassem atrás da barbearia do Seu Gerônimo.

Raimundo não se controlou diante da bela moça e num rompante, agarrou Terezinha pela cintura. Ela naquele momento, descobriu que sempre desejou ser beijada daquele jeito. E como se perdesse a consciência se esqueceu de onde estava... Apenas correspondeu aos beijos de Raimundo. Tremeu em seus braços ao mesmo tempo que se sentiu protegida por eles, mas de repente os dois se largaram assustados ao ouvirem Jessé que a procurava.

Pobre Terezinha de Jesus, não sabia quem ela era. Não percebia o fogo adormecido que despertara naquele momento. Talvez o peso do nome, a promessa da mãe, sua educação religiosa não tivessem permitido enxergar-se tal qual era. Uma mulher com desejos. Sim, com desejos! E eram tantos os conflitos que em segundos ela refletiu sobre quem era, chegando a se comparar com Doralice. Foi como se de repente, Terezinha se descobrisse. Não era a Terezinha só de Jesus, era a Terezinha de si mesmo, uma mulher que desejava ser amada e amar. E sentiu nos braços de Raimundo a possibilidade de realização dessa mulher.

Terezinha de Jesus vermelha e ofegante gritou para Jessé que estava indo; e os dois nem tiveram tempo de combinarem outro encontro.

Raimundo era um rapaz rico, forte, alto e muito atraente. Sempre gostou de uma aventura e as mulheres caiam de amores por ele. Estava acostumado a conquistá-las, mas naquela noite sentia o gosto amargo das acumuladas tentativas fracassadas de estar com Doralice. Ela o havia expulsado do casarão, mesmo sabendo que ele poderia pagar muito alto por seus serviços. Diante de Terezinha, Raimundo viu a possibilidade de sentir o prazer da conquista novamente e sua vaidade um tanto machucada pelas recusas de Doralice, precisava desse mimo.

Não foi embora da Cidade, retornou à pensão de Dona Eulália e pagou mais uma semana adiantado. Gostou de Terezinha, era muito bonita e apesar de recatada se mostrou muito faceira correspondendo aos seus beijos. No dia seguinte, sabendo que Terezinha estaria na praça para a apresentação do grupo de Mestre Vírgílio, Raimundo apareceu para a alegria da moça. Ela rodava sorrindo para o rapaz ao som dos tambores e palmas. Após a dança, mesmo vendo Jessé ao lado da moça, Raimundo lhe entregou rapidamente um papel amassado sem que ninguém percebesse.

No bilhete, Raimundo pedia à moça que marcassem um encontro. Dizia que estava completamente apaixonado e precisava estar com ela novamente a sós, sem os olhares de reprovação do pai, para que pudessem conversar em paz.

Terezinha de Jesus sentiu um calor invadir seu corpo, começando pelas pernas e subindo até à cabeça. Sua pele morena corou e suas pernas tremeram de tanta ansiedade.

No dia seguinte, trouxe a resposta num pequeno pedaço de papel que jogara no chão ao fazer sinal para Raimundo.

Assim, os dois se encontram depois de quatro dias, ao final da quermesse, visto que Januário viajaria para a cidade vizinha e Jessé certamente iria para casa de Doralice escondido do pai.

Foi assim que Terezinha de Jesus encontrou Raimundo no barraco do finado caboclo Alcides, no sítio. Eram 19 horas quando Terezinha de Jesus seguiu a trilha que a levou até o barraco do falecido, escondida dos empregados e do irmão que se arrumava para encontrar a dona do Casarão.

Chegando lá, não demorou muito e Raimundo apareceu segurando um buquê de flores do campo. Talvez flores do sítio de seu pai...

Os dois se olharam, nada disseram e Raimundo a beijou docemente. Agarrou Terezinha pela cintura com mais força, apertando-a e a beijou de forma mais ardente que em meio a tantos carinhos e sussurros, Raimundo e Terezinha de Jesus se amaram e adormeceram na cama de palha.

Amanheceu e Terezinha chorava copiosamente ao perceber que estava só. Raimundo a deixara na choupana após suas juras de amor...Nem se despedira.

Foi assim que Terezinha de Jesus teve sua primeira queda, pois muitas ainda estavam por vir. Ficou ajoelhada no chão de terra batido, apoiada na cama de palha com as mãos para o alto. Chorava por uma ilusão que não durou mais que uma cantiga de roda.

Seu pai não a acudiu, nem tão pouco seu irmão, simplesmente Terezinha de Jesus ficou no chão para que todos vissem sua queda.

Proibida de entrar em casa, encontrou ajuda no casarão de Doralice, que a acolheu.

A ciranda da vida rodou como sempre e numa noite depois de tantas voltas, conheceu um cavalheiro chamado Silvério. E foi ele, Silvério, quem deu a mão à Terezinha que de pé com a ajuda de Doralice, caminhava com dificuldade, grávida de cinco meses de Raimundo.

Como nas cantigas, ele se apaixonou por Terezinha e ela se encantou com aquele cavalheiro tão carinhoso que ao se despedir pela manhã no casarão de Doralice, a pediu em casamento. Terezinha de Jesus foi embora com Silvério. Quatro meses depois, nasceu Jesus de Terezinha. E Jesus, segundo o povo conta, era ninado por ela que cantava uma cantiga triste, mas com final feliz.

Terezinha de Jesus agora sabia quem ela era. Era muitas Terezas, todas sonhadoras e sofridas. Era forte e fraca. Era santa e puta. Senhora, ora menina. Era Tereza de si mesmo...


Maris

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ALIENAÇÃO

Tarsilla do Amaral





Deixou apenas ser luz
As estrelas

Acreditou

Que folhas secas

São as dúvidas

Que secam


Tudo

Ficou sem sentido

Como o apelo

De ser

Que

Deixou-se macerar

No tempo

Da indiferença


E até mesmo

A xícara de café

Que o acordava

Esfriou

No esquecimento

Do que era


Sorriu


Que por fim,
O amanhecer
Se tornou
Risada de uma
Tristeza
Que não existia


Maris

sábado, 14 de fevereiro de 2009

SENTENÇA




E

Que o sol

Desponte

No horizonte

Do

Teu coração

Aberto


Queimando


Exposto

À correnteza

Do meu gosto

Há muito sepultado


Estendido

Em solo arenoso

Dos sonhos

Movediços

Que

Cegam


Pois

A mim

Restará

Dormir distante

Pra não mais

Amanhecer

Existindo

Nessa ausência

Seca

Em que há muito

Te espero


Maris

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

De Nós e Revés




DEPOIS DE LAÇOS

SE FEZ NÓS

E PRESO ASSIM

SENTIMENTO

FENECE


ARREBENTA

LINHA

DE ANZÓIS


AFUNDA

ARREDIO


É

CANOA

DE REVÉS


FRÁGIL

COLAR

DE CONCHA

SE DESFAZ


QUE DE DOR

O MAR

DEVOLVE

NAS MARÉS


ROTA

FEITO

TRANÇADO

DO BALAIO

QUE DESENREDA


TITUBEIA


LAMENTO TRISTE

QUE O VENTO

ESPALHA


FEITO CORO

ENTOADO

DAS SEREIAS


Maris



"Lá no meu sertão plantei
Sementes de mar
Grãos de navegar
Partir
Só de imaginar, eu vi
Água de aguardar
Onda a me levar
E eu quase fui feliz"
Grão de Mar - Marcelo Arantes e Chico César

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009